Sinopse
Com imagens reais do interior e exterior desta impunente embarcação, bem como de alguns sobreviventes, incluindo ainda algumas ilustrações e reproduções de documentos reais.
Tradução de Marcos Aarão Reis e Valéria Rodrigues
“Há alguns anos, uma emissora de televisão britânica apresentou uma série dramática protagonizada por uma abastada família londrina. Intitulada Upstairs,Downstairs, enfocava o dia-a-dia da classe alta e seus serviçais. Num dos últimos episódios, a dona da casa anuncia que vai partir rumo aos Estados Unidos numa viagem de férias; casualmente, ela diz que embarcará num novo navio chamado Titanic! Os roteiristas e produtores da série não precisaram de nenhum diálogo para fixar instantaneamente, na imaginação dos telespectadores, o terrível destino reservado à pobre senhora. Nenhum outro desastre na história pode ser evocado tão facilmente, pela menção de uma única palavra, como a dramática perda do Titanic na noite de 14 para 15 de abril de 1912, chocando o mundo inteiro e assinalando, sob vários aspectos, o fim de uma época. O Titanic e seu navio-irmão, o Olympic, eram os maiores e mais luxuosos vapores já construídos, e suas dimensões imensas proporcionavam uma sensação esmagadora de segurança e estabilidade, reforçada pela incorporação do que havia de melhor na tradicional indústria naval britânica. Naquele tempo, a Grã-Bretanha ocupava uma posição de liderança mundial em navegação: a Armada Real dominava os mares e as embarcações oriundas de estaleiros ingleses desfrutavam de um conceito excelente. Quando o Titanic foi a pique na sua viagem inaugural essa reputação sofreu um rude golpe.
Com suas acomodações rigidamente divididas em classes – primeira, segunda e terceira e 892 tripulantes encarregados de servir em diferentes níveis aos três mil passageiros, o Titanic reproduzia a vida social em terra firme, onde a maioria dos ricos vivia distante dos sofrimentos e privações dos pobres. Apesar do sofrimento inaudito daquela noite em que pereceram 1.522 pessoas das 2.235 que haviam embarcado, o naufrágio manteve essa divisão intocada, dado que houve duas vezes mais mortos na terceira classe e entre os membros da tripulação do que na primeira classe. O país foi varrido por histórias acerca de incidentes associados ao desastre, desde cenas de pânico e egoísmo a casos de heroísmo e sacrifício, para não falar da imagem tão citada da orquestra de bordo, que não cessou de tocar melodias populares enquanto o gigantesco navio deslizava lentamente para o fundo do mar. Houve muita discussão, e até hoje existem controvérsias sobre a atitude de outras embarcações que navegavam nas proximidades, especialmente o Californian, pequeno cargueiro que teria testemunhado o afundamento sem que seu capitão tomasse a iniciativa de socorrer o malfadado Titanic e os desditosos viajantes da sua primeira e última travessia oceânica.” in Introdução