Sinopse
Memórias de Tito Duarte (1953/1975)
…todo o meu ser, com o rodar do tempo – e não foi preciso muito – teria que pender para a “Fretilin”, não aquele primeiro grupo de racistas, estúpidos cumunistóides irresponsáveis, desenquadrados no tempo e no terreno, cuja única loucura boa era a sua intransigente ambição de independência, mas aquela em que se tornou a breve trecho: a verdadeira incarnação do Povo Timorense, no seu querer, no seu heroísmo, na sua abnegação, na sua garra, na sua sagacidade, na sua malícia, na astúcia con: que ludibriou o inimigo, na sua inquebrantável resistência. Foi dela – e de nenhuma outra força política – que saiu o gérmen da revolta, a consciência colectiva de terem uma Pátria, de serem uma Nação, de formarem um único corpo com um só querer: de terem que ser eles próprios a decidir do seu destino, a expurgar da sua meia-ilha toda e qualquer atitude de protecção, de colonialismo…
…há qualquer coisa que nos ultrapassa, fenómeno transcendental com o seu quê de sagrado, quando um desconhecido e tímido escriturário da administração, inicialmente relutante em se entregar à causa, tem um vislumbre miraculoso e, num impulso, conscientemente, com a inteligência de um cérebro superior, as artimanhas de um rato e a audácia de um predestinado, protagoniza a revolta, então já com uma visão nacionalista, conglomera os desunidos num só corpo, sem doutrinas nem diferenças de concepção, numa única frente, num único objectivo, numa única meta a atingir: a independência do seu Povo! …Herói providencial, messias, lunático, ou guerreiro de todas as armas, chamem-lhe o que quiserem, mas aquele corpo fruto do sangue português e timorense, aquela alma meia lusitana meia maubere, ergueu-se desafiadora, incarnando o símbolo da revolta contra o usurpador, da luta contra o conquistador brutal…
… um filho, embora muito amando o seu pai, muitas vezes rebelando-se contra ele e inconformado com as suas decisões — tantas vezes despóticas – ambiciona sempre a sua independência, caminha sempre para uma normal e lógica emancipação, para a liberdade de conduzir o seu destino para o melhor ou para o pior. Isso não significa, de forma alguma, que despreze quem o encaminhou para a vida!