Sinopse
Coordenação – Ana Cannas da Cunha e Diogo Gaspar
“Recebemos a proposta com todo o gosto, tanto em atenção ao elevado prestígio da instituição proponente como pelo interesse do tema.
Este foi inicialmente definido de uma forma muito genérica. Tratava-se de ilustrar documentalmente as relações entre Portugal e os Estados Unidos. Definido assim o tema geral, procurou-se depois limitar o seu âmbito com o intuito de encontrar pontos concretos que permitissem atrair o interesse do público. Assim, ao reduzir o período cronológico aos anos que vão desde o momento da luta pela independência até às primeiras décadas do século XIX, orientava-se a escolha das peças a apresentar para alguns aspectos francamente curiosos e significativos desse período em que a sociedade europeia olhava com a maior curiosidade para o fenómeno da construção de uma nação no novo mundo americano, ao mesmo tempo que recebia dela alguns dos produtos que depois passaram a fazer parte do seu quotidiano, como o café e o tabaco. Essa curiosidade generalizada, que se verificava também em Portugal, como mostram alguns dos documentos apresentados, tinha alguma coisa que ver com uma simpatia um tanto romântica e até, mais precisamente, rousseauniana. Via-se com interesse e optimismo a vida do “bom selvagem” e havia mesmo um verdadeiro fascínio por tudo o que poderia representar a construção de uma sociedade liberta dos entraves existentes nas anquilosadas nações do velho mundo, cheias de desigualdades e de formalismos. Essa atitude, porém, tomava também as formas de outro tipo de curiosidade: aquela que resultava já de um interesse verdadeiramente científico pela “história natural” do continente americano e pelos seus aspectos exóticos, num ambiente em que os conceitos iluministas começavam já a dar lugar aos conceitos da ciência positiva e objectiva peculiares do século XIX.
Tudo isto perpassa nos documentos exemplificativos aqui apresentados, nos desenhos, mapas, retratos, plantas, mobílias, vestuário, produtos de consumo corrente e objectos da vida quotidiana, que se lhe associam, com o intuito de recriar o ambiente dessa conjuntura tão peculiar. Aqueles anos em que aos receios e desconfianças do Marquês de Pombal para com a Revolução americana se podem contrapor os entusiasmos da Gazeta de Lisboa, em que ao esforço de David Humphreys por imitar a gente culta do velho Continente corresponde o entusiasmo do Abade Correia da Serra pela constituição dos Estados Unidos e pela flora americana, ou ainda em que ao gosto dos americanos pelos vinhos do Porto e da Madeira corresponde o dos europeus pelo café e pelo tabaco.” in Apresentação por José Mattoso