O 11 de Março – peças de um processo

Sinopse

“Está por fazer, na sua dimensão nacional e de consequência, a história do período que vai de 25 de Abril de 1974 a 25 de Novembro do ano seguinte. A maioria dos escritos sobre o período ou são peças autojustificativas, ou são narrativas de circunstância jornalística e, no seu conjunto, tendem quase sempre a sufragar uma perspectiva de autismo revolucionário contente, arrogante ou saudosista em que a esquerda militar e civil se foram deleitando.
Ao publicar algumas peças do processo n.º 12/76, ou «processo do 11 de Março», especialmente o despacho do Juiz de instrução, Saraiva Coelho, pretendemos, não contribuir para essa polémica maniqueísta, com achas da nossa fogueira, mas trazer à memória da opinião pública uma descrição sumária dos factos, que mais que a sua interpretação ideológica, estabelece o que então se passou e sobretudo o que não se passou. Ao mesmo tempo, pretende recordar-se a conjuntura e os antecedentes de uma data da História contemporânea, sinónimo da provocação e da violência comunistas e que se traduziu em um passo em frente, no PREC, no sentido da socialização da economia nacional, da «descolonização exemplar» de Angola e da radicalização e violência sociais.
O despacho de instrução, para além do relato dos factos – que se le como um thriller e um documento vivíssimo dos usos e costumes da época – levanta questões interessantíssimas e, na época, corajosas e pertinentes, como a (i)legalidade dos poderes constituídos, nomeada mente do processo de «eleição» do General Costa Gomes. para a Presidência da Junta de Salvação Nacional e, consequentemente, para a Presidencia da República. Este e outros textos, como o «documento Hugo dos Santos, para além de recordarem tentativas de contenção e resistência à maré revolucionária, servem para integrar na experiência nacional e colectiva uma lição duramente paga, esperando que nunca mais se repita.” in Nota do Editor