Sinopse
Primeiro e único livro de poesia do autor.
«Navegação da Terra: a viagem, o amor, a viragem. Um texto poético poroso: a força semântica na fina rede das palavras. O rumor dos sonhos, o clamor das esperanças comuns. E a beleza plástica dum verbo ágil, certo, frugal.
Conhecemos os signos claros da mensagem: planície, fome, lezíria, mar, corpo, e outra vez a terra, outra vez o mar. O silêncio, a amurada da tristeza sobre os dias, os navios por dentro da voz desperta e solidária. Todo o discurso é uma bissectriz: entre a sombra e a energia solar da metamorfose. Um arado arroteando imprevistas glebas e revelando as coisas, as pessoas, o amargo e o sensível deste quotidiano de contrastes. Um acto de amor. João de Melo (autor de um dos mais belos livros de ficção testemunhal que se escreveram entre nós, a Memória de Ver Matar e Morrer) não é o poeta do verso labiríntico; tão pouco o cantor da praça pública, onde, não raro, o texto cede às tentações do imediato. A sua arte tem um nutriente confesso: o rigor. Um rigor formal que não invalida, antes serve, a substância viva da aposta fundamental: a notícia do corpo (sensualidade, erotismo, o prazer de água na sede inteira), da disforia social, da memória da guerra, da infância, da ilha (açoreana) em que nasceu.
Navegação da Terra: a viagem pelos lugares ocultos, até às bainhas do insondável, a busca dos sinais no rosto do tempo. Tempo contratempo, futuro adiado, com lama nos caminhos que os homens quiseram (querem) de sol e firme chão. Por isso, nestes poemas, a mágoa sem disgnosias nem abdicações; o combate lúcido; a certeza das fartas searas da alegria; os enunciados multipolares da viragem. Também a diversidade rítmica e a decantação estética que colocam a obra e o autor num plano de relevo na literatura portuguesa do presente.» José Manuel Mendes