Sinopse
Editada pela Fundação Macau, esta obra do Coronel Carlos Gomes Bessa, militar e historiador português, permite compreender as consequências da implantação da República na China na então colónia portuguesa de Macau, abordando as relações diplomáticas entre os dois territórios nas figuras de Sun Yat-sen, o líder revolucionário chinês, e José Carlos da Maia, o Governador de Macau.
Contém um fac-símile da carta enviada por Sun Yat-sen a José Carlos da Maia.
“Pelo seu singular estatuto, Macau, porto de abrigo por excelência, foi sempre praça de refúgio, fortaleza de neutralismo e espaço de liberdade. Sem aprofundar os períodos agitados do revolucionarismo dos princípios deste século, da II Grande Guerra e da Revolução Cultural, basta-nos simbolizar o facto com três figuras imortais da História da China: Tang Xuanzi, “o Shakespeare da China”, que também soube buscar inspiração nos “penedos de Camões”, quando Macau o acolheu em transe pouco tranquilo da sua vida; Zheng Kuan Yin, o grande teórico do reformismo chinês, mestre de referência de Sun Yat Sen e de Mao Zedong; e o próprio Sun Yat Sen, “Pai da Pátria”, iniciador da grande libertação da China de um longo período de decadência, causado pela caduca dinastia manchú e pela ocupação de potências ocidentais.
[…]
Alguns aspectos do já tão aprofundado fenómeno das transculturações Ocidente/China aguardam ainda quem os venha estudar e inscrever na longa lista dos contributos de Macau. Refiro-me às influências sócio-políticas ocidentais sequentes à derruição do “ancien régime”: aos ventos da Revolução Francesa, do mercantilismo, dos filosofismos revolucionários vários, que fatalmente se foram repercutindo na revolta Tai Peng (1850-64), nos vários movimentos reformistas, na proclamação da República, no movimento de 4 de Maio de 1919 e até no comunismo agrário de Mao Zedong.
Sun Yat Sen pode ser visto como figura onde todos estes veios se entrecruzam, encarnando assim, na sua idiossincrasia e acção, o que de mais marcante timbra Macau nos tempos e na História do Sul da China. E é, indicutivelmente, mais um exemplo do que a diferença de Macau pode significar, como factor de utilidade, à evolução e respiração do telurismo continental chinês.
Não nos surpreende, pois, que a primeira grande figura política da era moderna da China tenha sido também objecto da pesquisa do historiador Carlos Gomes Bessa, que vem debruçando a sua curiosidade sobre aspectos da História de Macau, revelando-se um leitor atento e minucioso de tudo o que vem sendo dado à estampa nos últimos anos e dos documentos que lhe têm passado pelas mãos.” in Prefácio por Jorge A. H. Rangel