Sinopse
Desde o período homérico até à conquista romana
Tradução, notas e prefácio por Dr. Vitorino Magalhães Godinho
“A história económica da Grécia antiga deve interessar, à primeira vista, não só aos que estudam a Antiguidade por si própria, mas também aos que querem conhecer, por um exemplo característico e completo, o desenvolvimento material das sociedades humanas. A Grécia, com efeito, apresenta o espectáculo único de um povo que passa em alguns séculos, das instituições familiares ao regime do individualismo na cidade soberana, e cujo horizonte se dilata ràpidamente, para além das pequenas localidades a que primeiro se confinava, a toda a bacia do Mediterrâneo. As transformações políticas correspondem necessàriamente as transformações económicas. A evolução mostra-se aqui com uma simplicidade esclarecedora; os grandes períodos destacam-se; podemos esperar que se revelem leis gerais.
[…]
Contra as generalizações apressadas e temerárias, escudar-nos-emos com uma precaução essencial: determinaremos na evolução, é objecto do nosso estudo, épocas diferentes. É por falta desta distinção necessária, por ter tirado indiscriminadamente exemplos de todos os séculos, que as escolas opostas entre si se refutaram tendo fàcilmente razão. A dialética própria à filosofia da história é sempre falsa, se não se apoia na cronologia. E por isso que, sem temer voltar às mesmas séries de factos em momentos diversos, com risco de repetições aparentes, apresentaremos quadros de conjunto, período a período. Por uma coincidência que nada tem de fortuito, antes deriva da conexão íntima dos fenómenos sociais, os progressos da economia na Grécia correspondem aos aumentos sucessivos da documentação que permite estudá-los. Temos assim que percorrer quatro estádios:
1.º Os helenos, que trouxeram para as costas do mar Egeu um regime patriarcal e pastoril, passam, durante os séculos descritos pelos poemas homéricos, à economia doméstica e agrícola, em seguida à economia urbana e comercial, e começam a visitar os países longinquos.
2.º O predomínio da economia monetária na Grécia arcaica traz o triunfo do individualismo sob as formas mais diversas: enquanto a poesia se torna pessoal, a classe dos artífices e dos comerciantes opõe-se à aristocracia fundiária, os grandes portos disputam a primazia entre si, a colonização dispersa a raça grega por toda a orla do Mediterrâneo.
3.º Nos belos anos dos séculos v e Iv, em que instituições aperfeiçoadas aparecem nas obras dos grandes historiadores e em inúmeras inscrições, Atenas coloca-se à testa da Grécia. Alicerçando a manutenção da sua democracia num império marítimo, faz do Pireu o centro aonde afluem os produtos naturais do mundo inteiro e donde irradiam em todas as direcções os objectos fabricados. A economia é urbana num sentido, plenamente mediterrânea noutro.
4.° Quando, por fim, o quadro da cidade estala, quando todo o Oriente se abre ao helenismo e o Egipto consigna nos papiros os efeitos desta revolução, o regime monetário penetra em novos domínios, a divisão do trabalho realiza progressos incessantes, os interesses cruzam-se de país em país: esboça-se um mercado universal.” in Introdução
