Sinopse
“O senhor comandante António Marques Esparteiro, que, durante a sua vida de profissional distinto, tem mostrado sempre qualidades mililares e de marinheiro pouco vulgares, não contente em ter adquirido diplomas que o consagram como excelente técnico em artilharia naval e hábil organizador de defesa de portos, nem mesmo durante os ócios que lhe deixam os seus comandos e outras comissões de responsabilidade, perde o contacto com o mar, e, antes pelo contrário, para lhe mostrar o seu profundo amor, até mesmo aquelas horas de repouso dedica a investigações históricas interessantíssimas, ou estudos de marinharia e arqueologia náutica, que depois traduz em linguagem elegante e de clara simplicidade com que enriquece a literatura profissional.(…)
Na sua prosa o autor emprega algumas vezes os termos da velha marinharia que dão às páginas do seu texto um sabor de elegante arcaismo que muito se aprecia, não tendo menos encanto as citações que faz por vezes dos autores coevos sem lhes alterar a linguagem de sabor antigo deveras apreciável.
Como dissemos, a ordenação da narrativa é preciosa e os temas escolhidos, perdoe-se-nos o galicismo, empolgantes. Avultam as respostas de soberbo orgulho que enobrecem quem as profere, mesmo sabendo que vai morrer e as decisões de herois que excedem tudo quanto outros povos enalteceram. O leitor encontra aqui frases de tão levantada e franca eloquência que a magia das suas palavras não fica aquem do tão citado debout les morts de Verdun ou o – La garde meurt, mais ne se rend pas- de Waterloo. André Pessoa, batendo-se até mais não poder e fazendo depois saltar o navio, de preferência a uma salvação provável, é superior ao Mucius Sevola que os romanos tantos séculos antes celebraram; Sebastião Soares empunhando a espada com a única mão que lhe resta para defender o navio da abordagem que o investe, faz, um século antes, o mesmo que Dupetit Thouars praticou e de que os franceses tanto se orgulham.
Todo o livro, portanto, com lances desta natureza, é um poema em prosa capaz de fazer vibrar a alma juvenil dos leitores a quem se destina.” in Apenas duas palavras