Guerra & Marginalidade

Sinopse

O Comportamento das Tropas Portuguesas em França 1917-1918

“Foi, como se sabe, muito curta a intervenção militar portuguesa no teatro europeu da I Grande Guerra. Na prática, pouco mais de um ano. Contudo, antes, muito antes, combatíamos já em África contra os Alemães, onde travámos duros combates e tivemos grandes baixas.
Apesar disso, talvez por ter sido mal aceite a nossa ida para França, e certamente, pelo dramatismo daquele negro 9 de Abril, na nossa memória colectiva a I Guerra Mundial é a Flandres – e quase só a ela se reduz. Foi tão profunda a ferida por ela aberta na consciência do povo português, que, durante décadas, um certo respeito ou temor reverencial envolveu a abordagem dos aspectos negativos da nossa intervenção, sobretudo, em França. Como se eles não existissem sempre, tal como nas nossas vidas os erros, as fraquezas ou as derrotas.
O importante, nestes casos, é tentar fazer um diagnóstico o mais pormenorizado que for possível, para que desse estudo se possam extrair as causas que os geraram. Por isso, tenho repetidamente afirmado que ninguém melhor do que um historiador do próprio país está em condições para se lançar nesta investigação: é que nenhum estrangeiro o fará com o mesmo desejo de prestar um serviço, não à verdade, pois quanto a isso os dois a devem querer servir de igual maneira, mas sim à comunidade a que só o primeiro pertence e sente como coisa sua.
Foi a esta tarefa que se lançou o autor. De há muito se vem dedicando a estudar a I Grande Guerra – tema que, aliás, constituirá a sua tese de doutoramento. Ao investigá-la deparou naturalmente com “zonas negras” –
negras, por serem negativas e negras, também, porque ainda mal conhecidas no seu volume e nas suas causas. Não fugiu ao trabalho nem ao risco. E bem, quanto a mim, compartimentou os acontecimentos tendo como separador o 9 de Abril. É que as revoltas (melhor, talvez, as insubordinações colectivas), as deserções e os furtos têm de ser olhados sob óptica diferente antes e depois do terrível massacre em que se transformou a Batalha de La Lys, que ele analisa em profundidade no último ensaio.” In Prefácio