Escritos Pornográficos

Sinopse

Precedido de Utilidade de uma literatura erótica
Organização e notas de Noel Arnaud

Nisso, o leitor vai ficar divinamente decepcionado! Os textos pornográficos do mestre pornógrafo, do interdito, do condenado por ultrage aos costumes por via do livro, do monstro de perversidade que levava à perdição a juventude suja e desalinhada de ontem que tem hoje cinquenta anos (e que se porta como um encanto, toma o seu banho de espuma quotidiano, vai à pedicura e ocupa os postos-chave da administração, dos negócios, da política ou da alta vagabundagem), como é? Os textos pornográficos de Boris Vian são assim tão poucos, cabem em quaisquer oitenta páginas e nunca tinham sido publicados!?
É isto mesmo, custa-nos lançar no desespero aquele que esperava um enorme volume e antevia já numerosas festas nocturnas debaixo da lâmpada de cabeceira. Além disso, segundo a teoria sustentada por Vian e que ele não tinha afinal inventado, as fronteiras entre o erotismo e a pornografia, entre a pornografia e a obscenidade, entre a literatura confessável e a outra, são das mais volúveis (os melhores especialistas e os juízes mais escrupulosos bem o sabem): a perversidade está no espírito do leitor e a simples descrição de uma árvore pode evocar, naquele em que o demónio do sexo palpita com insistência, visões que o Satyricon ou o Marquês de Sade (classificado com justiça por Vian quer entre os filósofos quer entre os autores cómicos e não eróticos) não teriam senão esboçado timidamente.