Sinopse
“Procurando descrever, nos seus diversos aspectos o território de Angoche, não pudemos restringir a nossa descrição aos limites acanhados da região apresentada. Nem seria possível a compreensão dum povo e dos seus usos, desde que decepado do meio humano a que pertence ou desgarrado do seu ambiente cultural. Por isso, os dez capítulos por que se reparte a nossa narrativa ultrapassam dilatadamente a região inicialmente visada, interessando uma área bastante mais vasta e uma cultura mais generalizada na qual se integra a daquela porção territorial.
Focando apenas aspectos regionais são os capítulos dedicados à descrição geográfica do território; à evocação do seu passado; aos registos demográficos e estatísticos, ou à enumeração das possibilidades económicas e empreendimentos sociais. Procurámos, contudo, relacionar estes capítulos com o contexto mais vasto em que se integram.
Por outros tantos capítulos se reparte a apresentação da paisagem humana – gentes, costumes, linguas, religiões, etnias- que caracteriza a maior vastidão do imenso e deslumbrante Norte moçambicano.
Nas páginas dedicadas a etnografia, fugimos a uma já consagrada compartimentação tribal, que não vislumbrámos, e consideramos deformada e convencional; acreditamos que a matéria apresentada, embora fora dos moldes consagrados, traduz melhor a unidade de origens e a conexão entre os diversos agregados sociais. Nascidos dum tronco comum, os povos matrilineares de que nos ocupamos estão intimamente aparentados, guardando, por isso, idênticas estruturas sociais e semelhantes manifestações culturais. A descrição de origens e costumes, referida aos povos macuas, pode deste modo interessar, como esquema generalizável, a quantas populações, representando um mesmo ciclo cultural, ocupam a zona africana levantina localizada a norte do Zambeze.
No capítulo consagrado às religiões, de mais vasta projecção, por interessar a quantos as professam, procurámos traduzir o que nos pareceu essencial à compreensão da vivência espiritual dos seus adeptos. O actual confronto entre hebreus e muçulmanos, acontecimento aliás posterior à redacção do capítulo, vem conferir algum interesse e oportunidade a certas considerações formuladas sobre o Islamismo. Estas páginas, como aquelas que se referem ao passado de Angoche, não teriam sido possíveis sem o inestimável conselho e ajuda de alguns eruditos Missionários que nos auxiliaram ou elucidaram a partir da sua grande experiência e saber, e movidos apenas por desinteressada e inesquecível amizade. Referir seus nomes é, pois, dever que nos cabe cumprir. Foram eles os Reverendos Padres Manuel Canas e José Alves (Malatane); António Pires Prata e Porfirio Gomes Moreira (Micane); Abondio Oberto (Mahúa).
Quanto aos factos mais recentes do passado da região, foi possível descrevê-los a partir da consulta dos raros relatórios no texto referidos. Usámos intencionalmente dum detalhe de citação de personagens para proveito possivel das autoridades civis e militares regionais.
Em capítulo final, foram reunidos assuntos diversos, produto de pesquisa ou observação, alguns dos quais permitem completar ou ampliar o estudo feito.” in Introdução
