Sinopse
5/6/75 – 2/10/75
As revoluções são assim: não tardam a revelar dois tipos característicos os «revolucionários» oportunistas, multidão palradora, legião de medíocres, intermediários de ideias feitas, malta que procura aproveitar a confusão em proveito pessoal, que se berram vítimas do antigamente, e andam, cirandam de faca e garfo, esfomeados de postas; e os verdadeiros revolucionários, esses do sentido colectivo, ideias firmes, concepções construtivas, o futuro.
Os génios da nossa Praça – nas artes, nas letras, no jornalismo, na política parecem, coitadinhos, desempregados desde o 25 de Abril de 1974. Basta olhar à nossa volta (onde estão?), basta saber ler (que escrevem?), basta, basta, basta.
Vera Lagoa, essa mesma. A das «misses». A das «bisbilhotices». A das frivolidades do antigamente, do 24 de Abril. A que inventou o supérfluo quotidiano num país onde, durante 48 anos, foi proibido inventar. Que riscos tremendos a Revolução lhe trazia, que perigos corria quando os talentos de café desabrochassem, quando todos os nossos geniozinhos florissem ao sol forte da Liberdade, quebradas as algemas do fascismo; já sem vestidos compridos, sem lantejoulas as mulheres, sem jantaradas, sem beija-mão que iria ser da «pobre» Vera Lagoa na Revolução, quando os génios das artes, das letras, das ciências, dos jornalismos, criassem, escrevessem, inventassem, cronicassem em liberdade?
O tempo, que nada perdoa, que se atreve com colunas de mármore quanto mais com corações de cera, já deu parte da resposta. No «Tempo», onde saíram estas crónicas que aí vão. Sem vestidos compridos, sem misses, sem lantejoulas, sem jantaradas, sem beija-mãos. Mas em carne e sangue, em democracia e liberdade, em coragem, em Povo. O Povo que semana a semana, lê Vera Lagoa na comunhão de uma linguagem simples, sólida, directa, livre – tão simples como as pedras, tão sólida como as árvores, tão directa como a democracia, tão livre como a liberdade.