Sinopse
Introdução, organização., fixação do texto e notas de Sérgio Nazar David. Apresentação de Ofélia Paiva Monteiro.
O final da primeira metade do século XIX marca o encontro de Almeida Garrett com Rosa Montufar Barreiros, mulher de estonteante beleza, esposa do oficial do exército Joaquim António Vélez Barreiros, homem de confiança da rainha de Portugal, D. Maria II, Barão e depois Visconde de Nossa Senhora da Luz.
Após a morte de Garrett, em 1854, persistem os rumores de que parte das cartas de amor trocadas entre Garrett e Rosa, a Viscondessa da Luz, teria escapado à destruição. Porém, só cem anos depois, em 1954, o açoriano José Bruno Carreiro conseguirá publicar a única edição (portuguesa) feita até hoje das vinte e duas cartas restantes de uma vasta e inflamada correspondência. Os manuscritos integravam, não se sabe como, o acervo do bibliófilo José do Canto, e, após sua morte (em 1898), foram parar à Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada (Açores). Rara é a carta que não é escrita com linhas atravessadas umas sobre as outras em sentido vertical e horizontal, o que sem dúvida pode ser lido como um código singularíssimo de comunicação entre os amantes.
Identificado com a Liberdade e com o Cristianismo, ideais dominantes em toda a sua obra, Garrett desdobra-se entre o homem político e o homem das letras. Exilado três vezes, ele desafia o regime absolutista e, ainda, depois, em luta constante pelo aprimoramento da monarquia constitucional, manterá sempre firme a mão que o atava à literatura. Mas será noutro campo que o escritor irá travar a batalha essencial. A encruzilhada é precisa: entre a cruz do desejo sexual e a luz do amor, o homem descobre-se atravessado pela contingência do encontro com uma mulher.
É com estes elementos que Sérgio Nazar David dá um novo contorno a esta edição das Cartas de Amor à Viscondessa da Luz. Faz com que, pela primeira vez, o texto das cartas retorne com fidelidade ao que está nos manuscritos da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, e ainda abre uma instigante possibilidade de leitura aos interessados pelo eterno tema do amor.
Deixando-se conduzir pela firmeza do texto introdutório e pela precisão das notas, o leitor poderá descobrir, através do bordado fino tecido nestas cartas, que se por um lado Garrett não sucumbe diante da moral da época, por outro não escapa do drama particular vivido por todo homem marcado pela inquietude do desejo sexual e pela busca de pacificação através do amor.