Sinopse
Recolha, Transcrição, introdução e notas de Maria José de Lancastre
“Mas estas cartas, como se poderá constatar, graças à riqueza das notícias que nos comunicam sobre os aspectos de um percurso existencial ainda não completamente reconstruído, valem especialmente para alguns points de repère biográficos e para a reconstrução da personagem poética.
O nó central destas cartas é, antes de tudo, a história de uma amizade. Uma história que nos é restituida, embora apenas por parte do Poeta (pois não dispomos das cartas de Alberto Osório de Castro), nas suas fases principais e na sua plenitude humana e intelectual. Mas esta relação, que foi rica, fecunda e intensa, dá-nos ulteriores notícias sobre a vida de Pessanha: uma vida essencialmente solitária, marcada pela marginalidade e pelo exilio, não só geográfico e existencial, mas por um exilio interior e ontológico, por uma alheação do mundo factual. Com o mundo e com o real, Alberto Osório de Castro foi para Pessanha um contacto, uma ponte, um interlocutor seguro e fiel que lhe permitiu um diálogo, uma expressão, uma confissão.
[…]
Sempre no plano da biografia, as cartas são, ainda, muito ricas de indicações e de esclarecimentos sobre a personagem: a agudissima sensibilidade de Pessanha («hyperesthesia», como lhe chamava o Poeta, não sem uma ponta de ironia), os seus mal-estares existenciais, a escolha casual do Oriente (cf. cartas 5, 6 e 9) que contrasta nitidamente com a suposição dos críticos que viram sempre na escolha de Macau uma predisposição de Pessanha para os mistérios orientais e para os paradis artificiels – revelações, confirmações às vezes, sempre, em todo o caso, notícias de interesse excepcional que convidam a rever um itinerário poético que seria útil confrontar com toda uma época além de o inserir no contexto de uma vida. Por esta razão, fecha-se este volume publicando em apêndice Camilo Pessanha em Macau de Alberto Osório de Castro, um testemunho precioso que apareceu em 1942 na revista «Atlântico» e que não tinha voltado a ser publicado na integra.” in Introdução