Carlos de Oliveira e a referência em poesia

Sinopse

Ao publicar Trabalho Poético, em 1976, Carlos de Oliveira estabelecia aquela que viria a permanecer a versão definitiva da sua obra poética, preterindo todas as versões anteriormente publicadas e excluindo um número significativo de poemas. Decorrente de um intenso processo de reescrita, Trabalbo Poético é, na verdade, um macrotexto final onde as relações diacrónicas cedem sob a sintonía e a sincronização decorrentes de um olhar que reelabora o passado da obra, conferindo-lhe uma invariancia que não se observa através da leitura sequencial das primeiras edições.
Este estudo pretende apreender a progressiva complexidade com que as relações entre texto e mundo evoluem na poesía de Carlos de Oliveira, pelo que deverá restabelecer a estratificação diacrónica da obra. Assim, as duas recolhas reescritas pelo poeta – Poesias (1962) e Trabalho Poético (1976) – são integradas como dois momentos também criativos que não substituem de forma equivalente as primeiras versões publicadas.
Pretende-se demonstar que, mantendo uma versão-de-mundo essencialmente materialista e dialéctica (ainda quando admite a possibilidade do seu desvanecimento), Carlos de Oliveira desenvolveu mecanismos de referência que lhe permitiram elaborar uma poética na qual a relação entre texto e mundo implica a exibição do poema como obra de linguagem. Assim, são descritos os processos de manutenção de uma função referencial que questiona a necessidade da relação de implicação entre arte marxista e realismo estético.