Sinopse
Portugal acompanhou a vaga autoritária do após-Primeira Grande Guerra, marcado que estava pela permanente instabilidade política, pelos insistentes conflitos sociais ou pela grave crise económico-financeira. A «República-regime» afundava-se no mar agitado das suas contradições, incapaz de renovar a confiança nos Portugueses e de definir uma linha de rumo para a Nação, sonho que fora vivido pelos Republicanos no tempo da «República-propaganda». António Ferro foi um dos novos que, da «espectativa benévola» transmutou para a desilusão na estabelecida «república de boémios» (Ferro dixit, em 1920), absorvendo gradualmente a ideia nacionalista conservadora e propugnando o autoritarismo de Estado.
O mundo político nacionalista luso, nesses agitados anos 20, viveu em «situação messiânica», moldada pela criatividade ideológica, pela concorrência de chefias, pela construção de poderes simbólicos, pela pouca fixação das ideias, pela emotividade e paixão ou pela vertigem do movimento e da agitação. Fervilham propostas, realinham-se pessoas, estabelecem-se novas sociabilidades e experimentam-se agrupamentos, numa grande polifonia política, cujos sons fazem estremecer a frágil República parlamentarista.
O presente estudo reconstrói faces do poliedro nacionalista português, para a percepção concreta e crítica – isto é, situada – dos seus campos político e simbólico. António Ferro surge, aqui, como um bom exemplo da representação do seu «espaço e tempo social», marcado pela tensão entre tradição e modernidade, conservadorismo e revolução, nacionalismo e cosmopolitismo.
Uma «Antologia de António Ferro», constituída por poemas de juventude (1913-17) e por textos de intervenção cívico-política (1919-26), completa o volume, permitindo ao leitor um contacto directo com o seu protagonismo.