Sinopse
“O presente trabalho fruto de uma experiência amarga, vivida pelo seu autor, desenhador-projectista de profissão e anti-fascista desde os bancos da escola, no seu dia a dia de presidiário INOCENTE (como tantos outros que o acompanharam no seu cativeiro injusto), vítima, em princípio, de um pide dos verdadeiros, isto é, daqueles que encaravam a «profissão» a sério, não olhando a meios, consciente da sua impunidade, (visto não sonhar com um 25 de Abril, tal era a sua convicção de infalibilidade do organismo que servia).
Imagine-se que havia indivíduos na sinistra organização bem poucos felizmente, mas que foram mais do que suficientes para lançar labéus a pessoas de bem, muito particularmente, a comprovados antifascistas, como o é o caso presente e o «pide» em questão sabia-o, e de que maneira! – que se entretinham a indicar como informadores nomes — reais ou não – com pseudónimos e tudo, em lugar dos quais faziam «informações por escrito ao seu querido director e também pelos quais recebiam o «salário» mensal, que passava a fazer parte do seu pecúlio. Umas vezes, seria com a intenção pura e simples de aumentar o próprio ordenado, outras seria com outras intenções, bem mais profundas e sinistras, como parece ser este o caso.
Obviamente tal sorte de actos só poderia ter sido ditada por sentimentos baixos, tal é a atroz repugnância que, naturalmente, inspiram a qualquer pessoa com um mínimo de formação moral.
[…]
Devido, precisamente, a tratar-se de uma obra escrita à guisa de Diário e ao correr da pena, este facto torna-a de fácil e agradável leitura até por lhe são infligidos pelas mais diversas formas, desde o indeferimento do pedido de um telefonema para a família, passando pela barreira oposta à correspondência, pelo corte de visitas por este ou aquele motivo, até à sua junção na mesma Ala com o pide Rogério (seu inicial algoz), em vez de efectuarem a acareação pedida e absolutamente necessária ao esclarecimento do imbróglio, todos aqueles reféns carne para canhão? Para quê pois descobrir a verdade se isso era supérfluo? (…)”
In nota previa